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Bar Luva Dourada  (Der Goldene Handschuh, 2019)

Nem sempre se trata de entretenimento.

Muitas vezes buscamos referências e até mesmo identificação ao nos depararmos com uma expressão artística. Às vezes, até o simples entretenimento nos proporciona isso. No entanto, o que vemos aqui não é entretenimento — é um pesadelo realista que nos força a encarar aquilo que muitos preferem ignorar.

O filme não é para todos. Ele causa repulsa em diversos momentos — e acredito que isso seja intencional. Nosso cérebro, inclusive, parece sentir o cheiro do ambiente. Não há redenção, empatia ou qualquer glamourização do assassino. Essa é uma escolha ética forte por parte do diretor, mas que pode afastar parte do público. O resultado é mais próximo de uma imersão no inferno urbano, em locais promíscuos e esquecidos, do que de uma narrativa comum sobre serial killers. Trata-se de uma realidade mais comum do que imaginamos, onde uma parcela marginalizada da sociedade vive presa ao vício do álcool, tornando-se invisível aos olhos do mundo.

Baseado em fatos reais, o filme narra a história de Fritz Honka, um assassino que aterrorizou Hamburgo nos anos 1970. Como já mencionei, não se trata de um filme comum. É um trabalho cuidadoso de reconstrução e interpretação. Ao terminar de assisti-lo, fui pesquisar sobre o ator Jonas Dassler — ele está irreconhecível em comparação com seu personagem. O trabalho de maquiagem é impressionante, mas acima de tudo, sua interpretação é brilhante. A produção recria ambientes que transportam o espectador a uma atmosfera assustadora e repugnante .

Isso tudo graças à coragem de Fatih Akin, que optou por uma estética visceral, direta e nada empática com o público.

Se você gosta de desafiar seu cérebro com novas experiências, recomendo muito.

Teve enorme repercussão no mundo, especialmente no circuito europeu de festivais, sendo inclusive indicado a Melhor Filme Alemão em 2019. A obra é baseada no best-seller de 2016, Der Goldene Handschuh, do autor Heinz Strunk.

O filme nos captura já nos primeiros minutos. A partir daí, segue com uma narrativa por vezes repetitiva, mas sempre funcional dentro da sua proposta. Ele está longe de ser entretenimento — está muito mais próximo da indignação, da náusea e da repulsa, uma verdadeira expressão de arte.

**** (7,9)

Publicado no dia 12 Junho de 2025.

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